Educação popular e o autoritarismo

Na década de 60, o Nordeste foi palco de grandes iniciativas para a mobilização e organização popular. Em Recife, teve o Movimento de Cultura Popular; em Natal, a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”; no Rio Grande do Norte, o Movimento de Educação de Base. A Ceplar (Campanha de Educação Popular da Paraíba) integrou esse conjunto de ações para compor uma educação popular capaz de alfabetizar adolescentes e adultos. Mas não era uma simples proposta de instrução para a leitura. O clima reformista daquele período aspirava por um cidadão crítico, consciente de sua condição social, cultural e, principalmente, política, para a superação de uma conjuntura autoritária de poder.

É nesse contexto que o pesquisador Afonso Celso Scocuglia, docente do Centro de Educação da UFPB e assessor internacional do Instituto Paulo Freire, mergulha numa investigação sobre o Ceplar e a repressão política sofrida pelos dirigentes. Com esse referencial empírico e um intenso trabalho sobre as milhares de páginas arquivadas no Superior Tribunal Militar, o educador elaborou o livro Histórias inéditas da educação popular: do Sistema Paulo Freire aos IPMs da ditadura, que pode ser conferido numa co-edição Cortez, Instituto Paulo Freire e Editora da UFPB.

A obra traça a educação no período de 61 a 64 numa perspectiva política, enfocando a atuação local do Ceplar e a reação político-pedagógica efetivada pela Cruzada ABC (Ação Básica Cristã), movimento protestante de educação de jovens e adultos sustentado por um acordo entre a Usaid (United States Agency for International Devellopment), o Colégio Agnes Erskine (Recife) e a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). O projeto ABC pretendia contestar política e pedagogicamente os programas de alfabetização, principalmente o Método Paulo Freire, que foi oficialmente adotado pelo governo deposto pelo golpe militar.

Nas considerações finais, conclui o autor: “Com certeza, revigorado e recriado, o Método Paulo Freire, assim como todo o imenso legado prático-teórico do seu autor, podem contribuir, efetivamente, para a construção de um projeto educacional que recoloque as crianças, os jovens e os adultos brasileiros como núcleo central de um país que, em vez de submeter-se às imposições mercadológicas e empresariais da frieza capitalista globalizada, necessita reverter a exclusão crescente, desespero da fome, a indignidade do desemprego. E essa reversão não pode prescindir da escola pública de qualidade e da contribuição do legado político-pedagógico de um dos seus principais educadores: Paulo Freire”.


Livro: Histórias inéditas da educação popular: do Sistema Paulo Freire aos IPMs da ditadura
Autor(es): Afonso Celso Scocuglia
Editora: UFPB, Cortez e Instituto Paulo Freire
Páginas: 205
COMO CITAR ESTE CONTEÚDO:
MENEZES, E. T. Educação popular e o autoritarismo. EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2001. Disponível em <https://educabrasil.com.br/educacao-popular-e-o-autoritarismo/>. Acesso em 28 mar. 2024.

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