Formação de professores numa escola aprendiz

Devemos substituir o “eu e minha classe” por uma afirmativa consistente de “nós e nossa escola”. Com essa idéia na cabeça, a professora Monica Gather Thurler, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra, na Suíça, desenvolveu suas idéias sobre a formação contínua de professores num seminário promovido pela Pueri Domus Escolas Associadas, em conjunto com a Artmed Editora, que reuniu cerca de 700 pessoas no Hotel Intercontinental, em São Paulo, nos dias 10 e 11 de agosto, e contou também com a participação de Philippe Perrenoud, educador e pesquisador da mesma universidade suíça.

Thurler trabalha em pesquisas sobre a profissionalização de professores e no desenvolvimento da qualidade de sistemas de ensino. É autora do livro Inovar no interior da escola, lançamento recente da Artmed Editora. Em sua palestra, disse que os novos objetivos de aprendizagem levam em conta o desenvolvimento de competências: “A experiência mostra que os alunos só aprendem quando enfrentam situações didáticas em que são obrigados a ultrapassar obstáculos e a construir novos saberes, consolidando suas aquisições”. Para desenvolver estratégias didáticas nesta lógica, os professores precisam conhecer os objetivos de aprendizagem e os planos de estudo, além da diversidade de situações problema que devem construir entre si e que podem adaptar conforme a necessidade e circunstância. Segundo a pesquisadora, seria desejável também dispor de um bom conhecimento dos processos em que os alunos constroem seus saberes.

Thurler considera que a gestão dos percursos de formação por ciclos, em que todos os sistemas estão envolvidos, obriga a assumir coletivamente a responsabilidade pela progressão dos alunos. Para que isso dê certo, os professores deveriam questionar e reinventar constantemente não só as praticas pedagógicas, mas também as relações profissionais e a organização do trabalho em sua escola. “É preciso criar novos processos mais flexíveis e moduláveis que acabe com atribuição fixa das classes (de aula) para uma só pessoa; que acabe com o eu e minha classe, com a divisão tradicional do trabalho, a fim de trabalhar melhor e colocar em sinergia as competências existentes, ou seja, é preciso falar juntos e nossos alunos“, explicou.

O professores, no entendimento de Thurler, acreditam que a avaliação e o controle precedem o ensino ao invés de utilizá-los para gerenciar melhor a progressão dos alunos. “Os novos dispositivos propostos pela introdução dos ciclos praticamente proíbem a repetência e nos obrigam a desenvolver uma pedagogia diferenciada, que leve em conta as necessidades de todos os alunos, obrigando os professores a valorizarem mais os processos que os produtos da aprendizagem”, frisou a pesquisadora, dizendo que há novas modalidade de controle e de feedback.

Sobre a relação entre os profissionais de educação, Thurler explicou que “é muito difícil os professores receberem feedback dos colegas”. Para ela, isso somente acontece quando o professor é inexperiente. E completou: “Em outras profissões humanistas, isso acontece com freqüência, para ajudar colegas a identificarem alguns pontos que não foram atingidos ou pontos positivos para valorizar o trabalho”. Como desdobramento dessa noção, a obrigação em prestar contas sobre o trabalho realizado também é uma exigência. “A maioria dos professores não têm certeza se seu ensino produz realmente a aprendizagem desejada e confiam cegamente na sua capacidade de programação didática e na validade de seu sistema de avaliação; ou se fecham em uma atitude mais resignada e até mesmo cínica diante da dificuldade de fazer com que seus esforços correspondam a efeitos reais e palpáveis”, salientou.

Outro tema trabalhado pela professora da Universidade de Genebra foi o novo paradigma da formação, que substitui o modelo de especialistas pelo modelo distributivo, em que os professores trabalham de forma conjunta para elaborar juntos novos saberes e novas competências profissionais. Em outras palavras, o objetivo é montar uma rede de competências existentes e, com isso, identificar competências pela reflexão constante sobre a coerência de novas práticas.

Segundo seus estudos, podemos imaginar um conjunto de quatro tópicos complementares para combinarmos os procedimentos de formação que já existem aos novos enfoques. São eles: sensibilização aos objetivos e desafios das reformas; desenvolvimento de competências didáticas e pedagógicas; e iniciação à exploração colaborativa e cooperação continua em uma organização aprendiz. Em outras palavras, uma tentativa de construir no seio dos estabelecimentos escolares projetos nos quais os professores vão se profissionalizar de forma interativa, questionando suas práticas e também identificando objetivos comuns.

COMO CITAR ESTE CONTEÚDO:
MENEZES, E. T; SANTOS, T. H. Verbete Formação de professores numa escola aprendiz. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2001. Disponível em <https://educabrasil.com.br/formacao-de-professores-numa-escola-aprendiz/>. Acesso em 29 mar. 2024.

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