Garimpando pensamentos para a identidade

Preocupado com a criação de um centro de cultura e história num edifício a ser recuperado, o município de Jarinu, localizado entre Jundiaí e Atibaia, a 70 km de São Paulo, fez uma parceria com o CMU (Centro de Memória da Unicamp), que apresentou uma proposta mais ousada capaz de incorporar um processo de recapacitação dos professores das escolas públicas locais. Segundo a coordenadora do CMU, Olga Moraes von Simson, o objetivo foi apresentar um projeto que “permitisse não só a reconstrução de aspectos desse passado recente, mas também possibilitasse uma transformação da consciência da população no que concerne à documentação histórica, seu valor na vida local, maneiras de recuperá-la e conservá-la, assim como a abordagem de aspectos problemáticos da vida contemporânea da comunidade visando a ações conjuntas e politicamente conscientes”.

A proposta, aceita e implementada em abril de 1998 com o nome “Jarinu tem Memória”, realizou um levantamento sócio-histórico e cultural com a formação continuada de professores, envolvendo alunos, comunidade e meios de comunicação. Foi um trabalho de construção do conhecimento a partir da memória compartilhada dos habitantes daquele município. O percurso da iniciativa e seus resultados podem ser conferidos no livro Memória em movimento na formação de professores: prosas e histórias, lançado pela editora Mercado de Letras, com a organização da doutora em Metodologia do Ensino, Margareth Brandini Park, professora da Universidade de Franca (SP) e pesquisadora do CMU.

O convênio firmado entre a prefeitura de Jarinu e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) permitiu a construção de um espaço para a cidadania, onde as pessoas puderam pensar, viver e habitar o tempo histórico. Entre os profissionais locais daquele município e os representantes do saber acadêmico, compartilhou-se uma visão sobre o passado regional, a importância dos diversos grupos sociais, as metodologias e técnicas de pesquisa, de catalogar a documentação histórica, as estratégias para envolver as pessoas nos trabalhos com a memória, a valorização de aspectos cotidianos do viver em Jarinu e outras trocas.

O trabalho, que foi apresentado no Encontro Nacional da Associação Brasileira de História Oral e em outros seminários, permitiu transformar educadores de Jarinu em pesquisadores e autores, que contribuíram para a edição do livro. E, embora a parceria tenha terminado, segundo Simson, outro trabalho já está programado sobre a história das escolas do município. Desta vez, a responsabilidade está a cargo da equipe e da comunidade locais.

O livro Memória em movimento na formação de professores foi dividido em cinco partes. Na primeira, o leitor confere alguns textos resultantes de oficinas pedagógicas e reflexões sobre as atividades de formação. Com a produção de pesquisadores, professores, membros da comunidade e alunos, a segunda parte do livro traz informações sócio-históricas e culturais de Jarinu. A terceira parte aborda as atividades desenvolvidas nos bairros e a quarta enfoca a educação infantil. Sobre o cotidiano do trabalho pedagógico, a pesquisadora Ana Lúcia Guedes-Pinto, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, aponta, na última parte da obra, a abrangência do projeto “Jarinu tem Memória”, sua criatividade e seu compromisso profissional com políticas públicas voltadas para as redes de ensino. A publicação traz ainda um “Caderno de fotos” com a reprodução de mapa da cidade, retratos de moradores, da igreja, dos primeiros integrantes da câmara municipal, de grupos de caçadores em 1930, de alunos e professores e desenhos feitos em sala de aula.

Falando sobre a possibilidade de se traçar novos horizontes a partir da escola e para além dela, Guedes-Pinto ressalta no texto final do livro: “Neste movimento de (re)construção da identidade da cidade, de reconstituição de seus contornos, a escola de cada bairro pôde ser sua célula aglutinadora e provedora de energia. Essa nova faceta dessa instituição de ensino se garantiu pelo trabalho desenvolvido pelos professores. Assim, a pulsação dos dias letivos passou a ser alimentada pela vida. A escola fundindo-se na comunidade, construindo outros novos laços com aqueles que sempre a freqüentaram. Porém, tais laços eram firmados pela cumplicidade do vivido, tendo como ponto comum a vivência compartilhada da história cotidiana de cada bairro que, entrelaçadas, desenhavam um novo retrato do município.”


Livro: Memória em movimento na formação de professores: prosas e histórias
Autor(es): vários. Organização de Margareth Brandini Park
Editora: Centro de Memória da Unicamp e Mercado de Letras
Páginas: 304
COMO CITAR ESTE CONTEÚDO:
MENEZES, E. T. Garimpando pensamentos para a identidade. EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2000. Disponível em <https://educabrasil.com.br/garimpando-pensamentos-para-a-identidade/>. Acesso em 29 mar. 2024.

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