Platão e a educação

O filósofo grego tem muito a nos falar sobre educação e conhecimento. E até mesmo na relação com o seu mestre é possível identificar algumas noções para se pensar e repensar o ensino. Muito do que sabemos sobre Sócrates e suas idéias tem como fonte seu discípulo Platão que o seguia nos inúmeros debates.

Nos diálogos socráticos, imortalizados por Platão, encontramos discussões sobre ética e determinada virtude, como coragem, piedade, amizade, dentre outras. Uma característica marcante desses textos é a capacidade de apresentar diferentes modos de conceituar essas virtudes, mostrando sua fragilidade sem, no entanto, propor uma conclusão, deixando a questão aberta. Ou seja, são diálogos conhecidos como aporéticos. O Sócrates apresentado nesses textos não se contenta facilmente com qualquer definição. Não está interessado em casos em que se reconheça a amizade, por exemplo. Aposta, antes, em questionar até que algo resista às suas indagações.

Esse aspecto pode estar relacionado à maneira socrática de pensar e de compreender o mundo, em que antes se preocupa com o conhecimento de si mesmo e não conclusivamente com definições de conceitos. Como herança temos um modo especial de reflexão filosófica: a maiêutica, um processo dialético e pedagógico socrático com múltiplas perguntas. Como objetivo, pode-se chegar a um conceito geral sobre o objeto em questão, mas nos diálogos socráticos, quase sempre, temos a destruição total ou parcial do estabelecido, dos preconceitos e valores inquestionáveis.

Até agora falamos mais de Sócrates e isso merece uma explicação para que o leitor não desconfie de um texto sobre Platão. A justificativa está no fato de que apenas num estudo mais aprofundado é possível diferenciar a autoria de algumas idéias. Nos diálogos, Sócrates fala pela escrita de Platão. Mesmo com esse alerta, não podemos ignorar suas idéias que influenciam o pensamento ocidental até os nossos dias.

Para Platão, o fim da educação é a formação do homem moral e o meio para isso deve ser o Estado que represente a idéia de justiça. Sobre esse tema, A República, de Platão, nos ajuda a pensar a educação a partir da sociedade que queremos. Na alegoria da caverna, por exemplo, Platão mostra que todos querem o conforto e a segurança de um mundo sem conflitos ou desordens, simples e facilmente compreensível. É o que acontece com os prisioneiros da caverna, que conhecem apenas as sombras projetadas. Ou seja, desconhecem o Sol, sua luz e os objetos do mundo possíveis apenas para quem deixa as correntes para sair da caverna.

Nesse sentido, para Platão, educação é liberdade, é um processo capaz de nos tirar de uma condição de ignorância. Mas não pode ser pela força. “Porque o homem livre não deve ser obrigado a aprender como se fosse escravo. Os exercícios físicos, quando praticados à força, não causam dano ao corpo, mas as lições que se fazem entrar à força na alma nela não permanecerão”, diz Sócrates, no Livro VII da República. E continua: “…não uses de violência para educar as crianças, mas age de modo que aprendam brincando…”

Outra noção importante em Platão é a teoria da reminiscência. Nela, o homem é concebido como um ser que nasce com sabedoria, mas não enxerga bem. No diálogo Mênon, de Platão, Sócrates mostra que um escravo não precisa aprender sobre a verdade da matemática para resolver uma questão. O conhecimento é retirado do próprio saber. Por meio de algumas indagações, o filósofo faz lembrar no escravo algo nunca ensinado.

Platão também é reconhecido como o fundador da primeira escola filosófica orientada para a política, que teve um êxito bastante expressivo. Formada por docentes como Xenócrates, Teeteto e Aristóteles, a academia tinha como método o debate e seus alunos não pagavam pelo estudo, como acontecia com os sofistas, contemporâneos de Sócrates que atribuíam a si a profissão de ensinar a sabedoria e a habilidade. Os sofistas mais conhecidos são Protágoras, que afirmava ser o homem medida de todas as coisas, e Górgias que se preocupava com a linguagem.

Obras — No diálogo Fédon, Platão nos conta os últimos instantes da vida de Sócrates, antes de beber cicuta. A principal discussão é sobre a imortalidade da alma. Em Apologia de Sócrates, temos a defesa feita pelo próprio Sócrates diante da Assembléia que o julgou e condenou. Em Eutífron, podemos conhecer a ironia socrática capaz de desmascarar a ignorância dos que se dizem sábios. O tema central é a piedade. Em Críton, temos a oportunidade de conhecer a justificativa de Sócrates para não fugir de Atenas após a sua condenação à beber cicuta. Sobre a justiça, A República mostra uma série colóquios entre Sócrates e seus discípulos sobre a política. Nesta obra, temos uma tentativa de definição da justiça, com incursões pela felicidade, metafísica, pelos vícios, governos, educação, dentre outros temas. É a obra que contempla quase toda a filosofia de Platão. Sobre a virtude, num diálogo denominado Mênon, temos o seguinte questionamento: a virtude pode ser ensinada? Antes de responder a essa pergunta, Sócrates quer saber: O que é a virtude? Outra obra importante de Platão é O Banquete. Neste diálogo, vários discursos e elogias são realizados sobre o amor. Inicialmente, fazem para o amor pederástico, modo natural da educação grega.

Sugestões de leitura
PLATÃO. “Eutífron”; “Apologia de Sócrates”; “Críton”; “Fédon”. In Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000.
PLATÃO. “A República”. Tradução de Enrico Corvisieri. In Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000.
PLATÃO. “O Banquete”. In Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
PLATÃO. Mênon. Tradução de Ernesto Rodrigues Gomes. Lisboa, Edições Colibri, 1992.
TEIXEIRA, Evilázio F. Borges. A educação do homem segundo Platão. São Paulo: Paulus, 1999.
JAEGER, Werner. Paidéia, a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
MARROU, Henri Irénée. História da educação na Antigüidade. São Paulo: Ed. Pedagógica e Universitária, 1975.
LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. São Paulo: Ed. Nacional, 1984.

COMO CITAR ESTE CONTEÚDO:
MENEZES, E. T. Platão e a educação. EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2015. Disponível em <https://educabrasil.com.br/platao-e-a-educacao/>. Acesso em 29 mar. 2024.

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