Perspectivas para a ação docente

Examinar as dificuldades da organização coletiva dos professores do ensino fundamental e médio da cidade de São Paulo, marcada pelo modelo sindical. Essa é a proposta do livro Os nós do “nós”: crise e perspectivas da ação coletiva docente em São Paulo, da professora doutora Cláudia Vianna, do Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação da Faculdade de Educação da USP. Originalmente tese de doutorado, a obra procurou investigar as condições dessa crise e a constituição de uma “identidade coletiva”. Para a autora, a crise poderia estar relacionada à ausência da construção de um “nós”.

“Com base nesses conceitos – crise e identidade coletiva – investiguei as possibilidades e os limites da organização do professorado, o que não significa que esteja negando a importância da ação estritamente sindical, mas, sim, privilegiando questões pouco exploradas pela produção acadêmica sobre o tema”, explica Vianna na introdução do livro.

A fim de contribuir para a percepção das dificuldades enfrentadas pela organização docente, o estudo considerou os conceitos utilizados por alguns autores no campo das teorias da ação. Nesse sentido, com pesquisadores que aproximam sociologia, psicologia e ciência política, foi possível ampliar o quadro conceitual de crise e identidade coletiva.

O objetivo, diz a autora, foi estudar as principais características e tendências dessa produção sobre as dificuldades das ações coletivas docentes: diminuição das mobilizações, ausência de diálogo com a população usuária das escolas públicas, divergências político-ideológicas internas às entidades e distância entre as lideranças das associações/sindicatos e o professorado.

Essas abordagens foram concentradas no capítulo I, que também analisa a presença ou ausência da questão de gênero, importante para entender a constituição da identidade coletiva e a participação da parcela feminina do magistério. O capítulo II dá continuidade à reflexão sobre crise da organização docente, agora, segundo a autora, com base nos modelos analíticos que problematizam a ação coletiva. Merece destaque as contribuições do sociólogo e psicólogo italiano Alberto Melucci, na definição do conceito de identidade e no exame da importância das relações de gênero.

“As diversidades do mundo do trabalho, as relações de trabalho no funcionalismo público e a reorganização da educação pública paulista são examinadas como fontes importantes para a compreensão das formas de ação coletiva desenvolvidas pela categoria”, esclarece Vianna, sobre a proposta do capítulo III. Para tanto, recorre à bibliografia sobre sindicalismo em geral e sobre organização do funcionalismo público, além de utilizar como fonte jornais da Apeoesp (Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) de 90 a 97.

Investigando sobre a possibilidade de construção de um “nós” em relação à categoria docente, Cláudia Vianna, no capítulo IV, apresenta o resultado do estudo empírico, de natureza qualitativa, baseado em entrevistas de um conjunto de pessoas que compreendesse a diversidade característica de professores e professoras da rede pública paulista quanto ao sexo, tempo de magistério, séries e níveis de ensino e participação em entidades (Apeoesp e Centro do Professorado Paulista).

No último capítulo, a autora apresenta uma análise do engajamento docente e de sua fragmentação fundamentada na crise e na identidade coletiva. Para Viana, a crise do engajamento pode indicar tanto o declínio das mobilizações quanto a queda da hegemonia do modelo de militância sindical e o surgimento de novos modos de ação. E a identidade coletiva docente pode ter como fonte para sua recomposição o trabalho realizado no cotidiano escolar.

Nas palavras da professora Marília Pontes Sposito, que orientou a tese: “Se é inegável o fato de que este cuidadoso estudo apresenta os elementos que compõem a crise do agir coletivo dos professores, não é esta, no entanto, a sua contribuição mais original. Inspirada em Melucci, a autora examina os possíveis caminhos de recomposição da identidade coletiva. Aponta, assim, o modo como os atores buscam novas alternativas e apresentam outras modalidades de ação, sobretudo aquelas que estão centradas na unidade escolar”.

No trabalho anterior da autora, na dissertação de mestrado, Cláudia Vianna buscou entender a escola pública sob a ótica dos movimentos sociais. Estudou um grupo de mães que se articulava em defesa da melhoria do ensino público paulista, o Movimento Pró-Educação.


Livro: Os nós do “nós”: crise e perspectivas da ação coletiva docente em São Paulo
Autor(es): Cláudia Vianna
Editora: Xamã
Páginas: 214
COMO CITAR ESTE CONTEÚDO:
MENEZES, E. T. Perspectivas para a ação docente. EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 1999. Disponível em <https://educabrasil.com.br/perspectivas-para-a-acao-docente/>. Acesso em 28 mar. 2024.

Comente sobre este conteúdo: